21/2/07

Canción da liberdade

Capitães da Areia
JORGE AMADO

Publicaçoes Dom Quixote

Capitanes de la Arena
Muchik. El Aleph editores



Fundación
Casa de Jorge Amado


Entre as lecturas que deixan pegada na mocidade está esta obra publicada por primeira vez hai xa setenta anos por un mozo daquela Jorge Amado. Capitães da Areia pertence á estirpe dos libros prohibidos no seu tempo e queimados na praza pública. Na actualidade debe de sobrepasar o centenar de edicións no Brasil e traducións en todo o mundo.

Hoxe segue impresionando este relato dos meninos-de-rua da cidade da Bahia na década dos anos 30, no que a violencia segue a ser por desgraza tan actual. Impresiona o sexo sen eufemismos que converte os protagonistas infantís en homes sen deixar de ser nenos. Impresionan asemade as mentiras dos xornais tan presentes na novela, a hipocrisía da xerarquía eclesiástica, a crueldade da policía e o castigo como única solución do reformatorio e orfanato. Impresiona o odio como único destino inevitable destes nenos abandonados que dormen baixo a lúa.

A novela ten un final propio para cada un dos protagonistas: Pedro Bala, líder revolucionario; o Profesor, pintor de éxito; Pirulito, misioneiro... Porque contra todo destino, está a canción da liberdade que Capitães da Areia nos ensina dolorosamente.

Destino
Ocuparam a mesa do canto. O Gato puxou o baralho. Mas nem Pedro Bala, nem João Grande, nem Professor, tampouco Boa-Vida se interessaram. Esperavam o Querido-de-Deus na Porta do Mar. As mesas estavam cheias. Muito tempo a Porta do Mar andara sem fregueses. A varíola nao deixava. Agora que ela tinha ido embora, os homens comentavam as mortes. Alguém falou no lazareto. É uma desgraça ser pobre, disse um marítimo.
Numa mesa pediram cachaça. Houve un movimento de copos no balcão. Um velho entao disse:
-Ninguém pode mudar o destino. É coisa feita lá em cima -apontava o céu.
Mas João de Adão falou de outra mesa:
-Um dia a gente muda o destino dos pobres...
Pedro Bala levantou a cabeça. Professor ouviu sorridente. Mas João Grande e Boa-Vida pareciam apoiar as palavras do velho, que repetiu:
-Ninguém pode mudar, nao. Está escrito lá em cima.
-Um dia a gente muda... -disse Pedro Bala, e todos olharam para o menino.
-Que é que tu sabe, frangote? -perguntou o velho.
-É filho do Loiro, fala a voz do pai -respondeu João de Adão olhando com respeito.
-O pai morreu pra mudar o destino da gente. Olhou para todos. O velho calou e também olhava com respeito. A confiança foi de novo chegando para todos. Lá fora um violão começou a tocar.

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